Fundo do poço s3xu4l por causa de um amor impossível.

Minha história é tão complicada e intensa que prefiro ir por partes. E muita coisa está resumida porque é cansativo digitar tudo minuciosamente.

2017. 15 anos. Moro com minha mãe e meu irmão com autismo grave - adulto. Meu pai havia nos abandonado 11 anos antes. Nunca foi presente, nunca pagou pensão, deixou somente uma casa. Eu tinha muitos problemas: me achava muito feio, passávamos por muitas dificuldades financeiras, minha cidade enfrentava uma seca, minhas roupas eram velhas e surradas, sofria bullying por tirar notas boas, não tinha amigos, minha mãe "descontava" as dificuldades da vida principalmente em mim, meu irmão tinha crises terríveis. Eu não saía de casa, nunca tive quarto, nem cama, até os 10 dormi na mesma cama dela e depois passei a dormir numa rede, no mesmo quarto. Já pensava em fugir de casa ou mesmo no suicídio.

Via secretamente pornografia. Não queria que ninguém descobrisse devido às implicações sociais da homossexualidade. Creio que escondia bem. Os homens sempre me chamaram mais atenção. Fantasiava com alguns homens conhecidos. Nesse ano, passei a ter uma atração no meu professor de história, um homem comum, casado, de meia-idade, muito atraente na minha cabeça. Só fui aluno dele por um ano, mas até hoje uma versão idealizada dele exerce absurdo fascínio sobre mim. Nunca tive coragem de me aproximar, nunca me senti "valorizado" por ele. Nossa relação foi de aluno-professor distante. Ele só lembrou da minha existência na hora da chamada ou da prova
Não lembro bem, mas no início eram desejos mais "leves", que foram se sexualizando com o tempo.

2018. 16 anos. Comecei um estágio. No entanto, gastava sempre o meu dinheiro com comida. Minha situação não melhorou subjetivamente, eu ficava ansioso como seria com o fim do ensino médio. Engordei bastante. Comer besteira, mesmo sem estar com fome, aliviava minha ansiedade. Trabalhava com atendimento ao público num banco e isso aumentava a ansiedade. Meu fascínio por meu agora ex-professor continuava. Sempre ficava secretamente eufórico quando o via pelos corredores.

2019. 17 anos. Um ano terrível. Saí do estágio porque não gostava de estudar a noite e sentia que jamais passaria no ENEM com uma rotina lotada o dia todo. Devido a isso, perdi o pouco dinheiro que tinha, não pude comprar nada para mim, nem minha mãe poderia. Eu não tinha estrutura para estudar em casa, na escola também não havia muita estrutura para isso. A cada semana que passava, eu ficava mais aflito. Queria tirar uma nota boa para passar numa universidade na capital e mudar. Eu tinha direito às cotas e isso facilitaria. Aprendi redação com uma pessoa que conheci num outro fórum pela internet. Meu fascínio continuava. Ficava triste pelos momentos que eu jamais usufruiria com ou como ele. Na escola, só tinha no máximo colegas. Uma menina chegou a se interessar por mim, mas eu rejeitei porque não tinha nenhuma atração (obviamente nunca contei isso) por ela. Eu ficava imaginando como havia sido a juventude de J, a primeira vez dele, como conheceu a esposa, o casamento e etc.

2020. 18 anos. Consegui minha primeira aprovação na Federal do meu estado. Um curso de exatas, logo eu que tinha tremenda dificuldade em física e matemática. Resultado: só frequentei o curso por um mês (no meio do ano tentei EAD por um outro mês, devido à pandemia), e, como eu já era maior e em outra cidade, estava matando as aulas para tentar marcar meu primeiro encontro no Grindr. Consegui um, terrível, não rolou nada, porque a pessoa não me despertou a mínima atração.
Foi terrível porque eu não tinha um centavo, morava de favor com a minha avó e tio, difíceis de lidar numa casa sem estrutura alguma, além de eles não valorizarem de verdade os estudos. Continuei fantasiando com minha paixão. Às vezes eu queria ser uma espécie filho dele, às vezes, companheiro sexual, puramente. Com a pandemia e com o desânimo com o curso, cancelei a matrícula e voltei para o interior, para a casa da minha mãe. Passei o resto do ano como em 2017 e 2019: sem fazer nada, depressivo, ansioso e tentando estudar para o ENEM de novo.

2021. Um ano extremamente turbulento. Voltei para a capital, dessa vez para trabalhar em um grande atacado. Voltei a morar de favor com avó e tio. Fiz o ENEM, consegui passar de novo para um outro curso, dessa vez de humanas. Entretanto, a rotina ficou extremamente cansativa. O trabalho era exaustivo e estressante, o relacionamento na casa da minha avó idem. Gastava todo o meu salário indo ao Centro, com comida, principalmente. Não consegui guardar um centavo.

Nessa época, ainda continuava tentando marcar algum encontro no Grindr, sem sucesso. Descobri um site chamado Sexlog, e passei a "produzir" fotos e vídeos de mim mesmo, visando à minha autossatisfação e a de outras pessoas. Às vezes minha estimulação era fantasiando com essa pessoa em mente. Esse hábito de "produzir" continua impregnado em mim até hoje. Conversei com algumas pessoas, até que consegui um encontro com um homem bissexual que concordou em ir ao motel comigo, ele também levou outra pessoa. Começou outro complexo meu: a questão da higiene no s3x0 4n4l. Foi doloroso e sujo; me inquieta profundamente como quase nenhuma pessoa quer falar abertamente sobre lubrificação e higienização, querem sempre fazer de qualquer jeito, com meio mundo romantizando isso. Terrível. Foi doloroso e "sujo", entretanto, esquecendo isso, gostei da intimidade em si e na minha mente tive a certeza de que eu gostava de homens. Continuamos conversando entre si, ele insistia em querer que eu fizesse algo com uma mulher, daí fomos parando aos poucos de conversar.

Pensar em s3x0, olhar esse site e procurar encontros eram as minhas válvulas de escape. Certo dia, não aguentando mais a situação em casa e no trabalho, planejei dar um fim na minha própria vida. Comprei alguns remédios, escrevi carta, mas desisti em cima da hora. Decidi então me demitir e trancar a faculdade. Voltei de novo para o interior, por alguns meses fiquei perdido pois não sabia como voltaria a fazer faculdade. Tive várias discussões nesse sentido com a minha mãe, embora dessa vez ela estivesse com a razão e isso me deixava mais desesperado ainda.

Minha paixão continuava latente, eu no fundo queria achar um homem parecido com ele. E cada fracasso que ocorria era um golpe na alma. Mesmo sabendo que nunca iria encontrar, continuei insistindo.

2022. O ano em que eu derrapei de vez. Consegui uma vaga numa moradia estudantil, a faculdade voltou presencial e comecei a ganhar uma bolsa. As preocupações com a manutenção e o desempenho na faculdade acrescentaram mais ansiedade a minha cabeça. Continuei tentando encontros no Grindr, no Sexlog e agora também no Bate-Papo UOL.
Tive dois encontros emblemáticos por causa do BPP Uol. O primeiro foi com um homem que, ao chegar na casa dele, percebi que não era atraente. Tentei me excitar para penetrá-lo. So que não rolava. Então, tirei o preservativo. Além de uma péssima experiência, tive que tomar PEP porque não me confiei.
Pouco tempo depois, marquei com um Uber, casado, em troco de pagar gasolina para o carro dele. O corpo dele me atraía demais, entretanto, ele fez algo bem grave, praticamente me violentou. Não usamos lubrificante e ele fez com muita força. Eu pedia para parar e ele achava que isso fazia parte do "jogo", então ficava mais excitado. Foi um abuso. Passei alguns dias sangrando. O pior foi o dinheiro jogado no lixo com ele.
Tive também um encontro com um homem de 51 anos. Ele era como eu gostava: grisalho, grande, todo inchadinho, alto, pele branca e rosada. Estilo paizão de classe média. Era inteligente, nível superior e divorciado, sua ex-esposa ocupava uma posição profissional e social de muito destaque. Com ele, senti princípios de prazer sendo ativo. Não foi melhor porque ele se negava a usar lubrificante. Não precisava. Depois do nosso encontro, me bloqueou e nunca mais quis conversa. Não usamos preservativo.
Cansado de marcar com homens comuns, passei a pagar massagens e garotos de programa, achando que tudo estaria no meu controle. Foram encontros totalmente ruins, entretanto, no fim do ano, um foi a exceção, embora eu tenha feito sem preservativo. Consegui sentir prazer como passivo, embora tentasse imaginar o meu verdadeiro homem em mente. Sim, a atração por ele não sumia, eu continuava a jornada em busca por alguém como a ele.
Nesse mesmo ano, conheci também no BPP Uol um outro universitário. Não senti muito tesão com ele, mas eu queria muito ser seu amigo. Só que ele também só queria s3x0 e acabamos nos afastando.
Nesse meio ínterim, gastei dinheiro com produtos de beleza pois julgava a minha pele muito suja. Pensamentos intrusivos me fizeram pensar tomar hormônio feminino. Corria pensando em engrossar as pernas (rs) e comprei bermudas e calças mais justas para destacar as pernas e o derrière. Quase tudo o que fazia era pensando em fins sexuais.
Só que isso teve um custo. Eu não tinha dinheiro para bancar isso. Fiz dívidas no cartão de crédito. Hoje em dia, por causa dessa mania, devo cerca de 12 mil, aos 22 anos.
Ademais, procurei ajuda psicológica e psiquiátrica. Só que, não tive paciência, e acreditava que até o fim do ano eu estaria morto. Gastei todo o dinheiro como se não houvesse amanhã. Parei com a terapia e a psiquiatria.

2023. Continuo no fundo do poço. Depois com experiências frustradas com Sexlog, Grindr, BPP Uol e garotos de programa, apelei para brinquedos sexuais. Com o pouco dinheiro que eu tinha, comprava consolos, flashlights, balaclavas, enfim, depois não sabia como guardar sem ninguém ver e jogava no lixo. Cheguei a ir ao motel, me gravar usando os brinquedos e postar esses conteúdos esperando agradar alguém. E sempre tendo em mente essa versão idealizada desse meu interesse impossível que chegou firme e forte ao sexto ano consecutivo.
No mesmo ano, passei a tentar frequentar saunas. Vez ou outra rolava algo com alguém, mas nunca, nunca eu sentia prazer de verdade. Nunca encontrava o que eu procurava. Só senhores feios, pouco ou nada excitantes, ou outros rapazes quaae sempre militantes e "desconstruídos" um pouco ou nada excitantes. É como um alimento que você só ingere para não passar fome, mas não acha bom, às vezes é até ruim.
Na faculdade, passei a nutrir interesse por um rapaz hétero, com características que me fazem imaginar que ele chegará aos 40 ou 50 anos com uma certa aparência. Passei a fantasiar com ele também, mandei um e-mail declarativo anônimo, mas me arrependo profundamente porque jamais terei chance.
Devido às minhas dívidas, passei necessidade alguns dias, não podia conyar jamais a minha mãe a raiz dessas dificuldades. Cheguei a ir em psicólogo r um outro psiquiatra, da faculdade, mas no fundo não via mais jeito.
Tentei o suicídio pela 1a vez, ingerindo várias cartelas de um antidepressivo. Depois, tentei me sufocar, me enforcar, mas não tive coragem. Passei a viver letargicamente, endividado, ansioso, depressivo, escondendo tudo isso de Deus e o mundo. Algumas pessoas sabem que tenho problemas, mas não sabem jamais os motivos que me levaram ao fundo do poço.
Procurei ajuda espírita e até numa seita sincrética, mas essas coisas que só dependem da gente é difícil

E, desde 2017, não há um dia que eu não pense nele ou na versão idealizada dele.

Atualmente retomei tratamento psicológico, absolutamente sem dinheiro, tentando voltar ao psiquiatra. Tomei PEP duas vezes ano passado. Ainda tenho conta e conteúdo no site esperando alguém "interessante".

Pornografia tradicional foi perdendo a graça para mim desde 2021. Eu gostava de tirar fotos de mim mesmo e me imaginar de certos jeitos. Gostava de fantasiar com meu amor impossível.

Detalhe: não sou "assumido". Nunca falo sobre sexualidade com ninguém. Tenho minhas críticas ao movimento e vejo que alguns conhecidos assumidos e militantes estão no mesmo barco da depressão, da rejeição, de não acharem o que busca e do suicídio.

Enfim, meu polegar está doendo de digitar. Espero que desabafar aqui ajude em algo.

Caraca! Que história! Você é muito valente, cara!
Estarei aqui te acompanhando. Te desejo muita força nessa e em todas as jornadas da vida.

É muito complicado. Hoje estava pesquisando métodos de tentar S. Há meses eu pesquiso sobre, mas não tenho coragem de ir em frente.

Recomecei a terapia há 3 semanas, não é a 1a vez, estou tentando voltar a um tratamento psiquiátrico (remédios).

Penso em tirar minha própria vida todos os dias. E até tenho alguns "distrativos" - caminhar, escutar música, ler livros, assistir filmes, cozinhar, estudar, estágio. Entretanto, são distrações paliativas. Não tiram as crises existenciais da minha mente.

Fico frustrado porque não consigo relações de verdade. Podem me julgar, mas mesmo não sendo muito atraente, não gosto de sair com outras pessoas não atraentes. É preciso ter um minimum de atração física. E o que me atrai é peculiar (ex.: não gosto de musculosos demais, mas também não gosto de caras muito gordos). Já tentei e me senti violentado, principalmente quando fui numa sauna. Enfim, só de tentar explicar para alguém e no máximo escutar uma frase pronta já é excruciante para mim.

Bati fotos minhas hoje e postei num site. Também fiz "M".

Olá seja bem vindo!
Fiz a leitura do seu relato.
Continue a terapia e o tratamento psiquiátrico. Você precisa muito deles.
Eu buscaria também alguma forma de espiritualização. Seria muito bom para você. São muitos conflitos e você precisa se encontrar.
Força e coragem!
Estamos aqui para ajudá-lo. Pense sempre em você em primeiro lugar e procure eliminar o desejo de tirar a vida. Você só tem uma chance na vida. E você precisa preservá-la. Estaremos em oração por você. Força!
Abraços e paz!

Boa sorte

Que história irmão, força guerreiro. Que o altíssimo te abençoe. TMJ.